segunda-feira, 25 de julho de 2022

Falácia Religiosa




Antes de tudo e depois do nada,
Há qualquer instante em que o que existe,
Sem saber que o faz, sem talvez,
Fazer ideia do que será saber, ou até ser,
Está ligado numa espiritualidade inata,
Numa ligação tão sútil quanto "real".
A realidade realiza-se numa ligação
Descomplicada e inevitável.

Nesse instante, o Deus ou Deusas -
Ou qualquer outra Coisa que não pode ser
Apertada dentro de uma palavra, 
Por muito bela ou por muitas que sejam -
"Existiam" - chamemos-lhe este verbo, por falta de melhor -
Numa plenitude que ainda hoje lhe colamos.
Essa "criatividade" existia aquém, nas coisas e além delas.
Perfeitamente ligada, una, mas respeitadora das
Vontades que talvez ainda, aí, não se distinguiam do impercetível.

Uma criatividade a montante de qualquer realidade ou criação,
Não nasce, digamos que é "presente" há pelo menos uma eternidade "atrás".
Desde esse passado inefável que a criação é banhada
Com tantas e tão diferentes enxurradas de religiosidades
Que todos os gostos e temores têm a solução ideal.
Mais a norte ou a sul, a este ou oeste, à frente ou para trás no tempo,
Basta procurar bem e la estará o código adequado para o efeito pretendido.

Em que momento faz sentido dizer que é necessária uma religião?
Uma religação? Religar o quê, quem a quê ou a quem?

Houve, também na espiritualidade, uma sedentarização:
Um momento que um homem ou mulher (que agora parece que deixam de existir)
Entendeu que era possível semear e colher, ou melhor,
Colher sem semear. Nesse momento percebeu que a semente
existia nos outros e que bastava escolher o ilíquido com que regar:
o medo, o desejo, o vazio... 

Essa semente que cada de nós parece ter
tem vindo a ser refém de adubos de outros.
Nesta fase, acho que vejo que qualquer aspiração metafísica,
Mais do que encontrar abrigo interesseiro,
Desencontra-se na hostilidade material,
No superavit de estímulos e soluções
Que nada mais podem ser do que um exorcismo da própria alma.
Uma amputação a sangue frio.

Parece-me que entender que é necessária uma religação
É tão perigoso quanto achar que não há, nem é necessária
Ligação.

Ainda acredito.

Acredito que ligação existe apesar das vontades polarizadas.

Ligação tão grande que dificulta o seu próprio entendimento.
Tão presente e constanto que não se percebe a existência.
Tão simples e natural, que nem que queiramos não é possível o shut down.

Nem religar, nem desligar, em achar que ela não existe.
Viver, pausar e saborear com um palato que não sei se sabes que o tens.