sexta-feira, 26 de abril de 2024

PRESIDENTE DA JUNTA CORTA MESADA AO FILHO


O Presidente da Junta da Lusíria tem um filho. O filho trabalha na Freguesia da Tropicónia. O filho pediu ao pai uma cunha no centro de saúde da Lusíria para arranjar dois pares de muletas para as filhas de um casal “amigo” da Tropicónia. O pai (não) não fez um telefonema e (não) não se conseguiram as muletas, apesar da fila de espera de Lusírios. O jornal Lusírio fez um pé de vento. O Presidente da Lusíria desvalorizou.

Depois de pensar um bocadinho o Presidente da Lusíria fez um almoço com jornalistas Tropicónios para dizer que tinha cortado a mesada ao filho. Toda gente gostou muito, então ele decidiu dizer: «Os Lusírios, há 500 anos roubaram galinhas dos Tropicónios, quando a Tropicónia e a Lusíria eram ambas Freguesia da Lusíria. Vamos fazer uma Comissão para mandar dinheiro dos Lusírios para a Tropicónia e compensar a perda das Galinhas e dos Ovos». A Tropicónia vai ter fazer outra Comissão para receber e distribuir o dinheiro Lusírio.

O filho sem mesada vai fazer uma chamada a um casal “amigo” porque ele conhece bem a Lusíria, e até conhece mais ou menos bem o Presidente da Junta Lusíria. Como tal, será o freguês Tropicónio mais qualificado para a Comissão.

Uns anos depois o Presidente da Lusíria já não é Presidente da Junta, nem tem dinheiro para repor a mesada do filho, mas convida o puto para lanchar. O rapazote, todo pimpão diz: «Obrigado pai. O dinheiro deu para as galinhas, para os ovos, para a minha mesada e para uma Playstation».

Um brinde à Lusíria.


quarta-feira, 24 de abril de 2024

Liberdade tem "Pai Incógnito"


No tempo da outra senhora a figura do “pai incógnito” era uma boa escapatória para liberdades impostas em casamento.

Hoje, em liberdade, parece que a Liberdade é filha de “pai incógnito”. Nestes dias é fácil ficarmos confusos porque o que não faltam são candidatos a Pais da Liberdade.

O barbeiro de 60 anos fazia a barba a Salgueiro Maia desde que o militar usava fraldas. O taxista de 45 anos foi quem convenceu o Zeca a produzir o “Grândola, Vila Morena”. O sindicalista de 63 anos foi quem edificou o Carmo. O escreve-lérias de 71 anos lembra-se de tudo, esteve lá e sem ele nada tinha acontecido. O bêbado da baixa, com 77 anos, é que, coitado, está mal: «Não estava lá, não vi na televisão, devia estar com os copos…».

Com tantos “pais”, quase podemos duvidar da atividade profissional da mãe. Pior, parece que estes pais estiveram lá todos para conceber - o acompanhamento é que não foi o seu forte.

A filha pode ter defeitos e estar a passar por dificuldades. Se nós, os não-pais, não cuidarmos dela, haverá certamente um coveiro de 69 anos que dirá «Esta já está! Agora diz qu’era boa pessoa».

sexta-feira, 22 de março de 2024

50 anos e Filhinhos do Papá


«Alfama não cheira a fado», Março não cheira a Abril, mas Abril cheirará a Junho.


A instabilidade de que tanto se fala é, para já, um agouro. Mas pode vir a ser um sintoma de que as bodas de ouro, que todos celebraremos este ano, podem ser um quinquagésimo aniversário de um casamento de fachada.


O casal é bonito. A esposa é bem mais velha que o noivo que teve. Nas festas estão sempre lindamente, não têm grandes demonstrações de paixão, como parece ser próprio. Fora de casa é um casamento de sonho.


«Quem vive no convento é que sabe o que se passa lá dentro» e nós, os condóminos, sabemos qualquer coisa. Portugal casou com a Democracia, mas os filhos vaidosos que não ficaram com a liderança da assembleia de condomínio, parecem que são filhinhos do papá, e preferem-no à mãe.


A MEMÓRIA da mãe já se confunde com a da tetravó. O mito de ambas foi fundido com alguma habilidade e oportunismo, típicos de quem quer o pai e tem de parecer jogar com as regras da mui nobre senhora mãe.


Normalizou-se a sensação de que é necessária uma maioria absoluta para se governar a casa da mãe Democracia e do pai Portugal. Absoluta era a tua tetravó, pá!


Os filhinhos do papá andam doidinhos a acender velinhas à Santa Criatividade Jurídica, para que se lhes ilumine uma alínea que, com o fermento mediático q.b., se sobreponha ao tio, irmão do pai: o Zé Bom Senso!


Já que falámos em fermento, entremos por aí.


Cada condómino pôs na bacia um ingrediente. Houve quem não tivesse posto ingrediente algum, mas desta vez, como sabemos, foram menos. O cheiro da massa que se fez, bateu e pôs na forma, ainda crua, tem, entre as principais notas, duas muito boas: o perfume da esposa do tio Zé, a Negociação; e o do sogro, Diálogo.


Eu não gosto dos comumente entendidos como filhos da mãe. Mas talvez precisemos que outros filhos-da-mãe, estes filhos desta Mãe, venham a jogo, e honrem a memória da família vasta e respeitável, nestas bodas de ouro que ainda vão a tempo de salvar o casamento.


Bolo cheiroso já há. Faltam os filhos-da-mãe para pô-lo no forno do condomínio, com ajuda de três tias do lado pai: a tia Sabedoria e as outras duas.


«Alfama não cheira a fado / Mas não tem outra canção», cantava Ary. Abril cheirará a Junho. Junho cheirará ao tio Zé, à sua esposa e ao seu sogro! Que assim fosse...


segunda-feira, 11 de março de 2024

Democratas-de-Bem querem Metecos



Nas últimas horas creio que ninguém que lê estas palavras teve a oportunidade de não sentir o travo amargo de alguns arautos da democracia a quase sugerirem o retrocesso do sufrágio para não universal.

Não estou particularmente feliz com os resultados destas eleições legislativas, admito. Apesar disso não me sinto no direito de justificá-los pela inferioridade do discernimento dos outros, em relação ao meu. Também não consigo culpar a justiça pela vontade popular.

No primeiro caso dizer que partidos como o Chega, no qual não me revejo, são suportados pela ignorância de alguns cidadãos é um insulto indisfarçável e gratuito a mais de 1 milhão de eleitores portugueses. Não estou confortável em arrotar essa injúria. Fazê-lo faz de quem o faz pouco mais do que um arrogante auto-proclamado tolerante só para ter o título e a pinta.

Qual é a solução para isto? Criar duas equipas, a “nós” e a “vós” como na sueca, em que a primeira está qualificada e é bem-vinda às mesas de voto, em detrimento da segunda que só prejudicará o país e a democracia? Voltamos para a realidade helénica? Lá havia uma primeira divisão: cidadãos e os outros. Os outros eram os escravos, as mulheres e os metecos. Ao contrário dos escravos e das mulheres, os metecos gozavam de muitos dos direitos dos cidadãos mas eram vedados da participação política. É isso que queremos?

Ou a solução passa pela educação e pela promoção da literacia política? Temos percorrido esse caminho, também. Não sei se, nessa matéria, houve algum outro momento da história portuguesa em que aparentava existir tamanho esforço público para se conseguir progredir.

Há uma pergunta que podemos fazer. O que se fará quando, apesar da máxima educação e literacia política, a vontade popular der sinais de sede de uma mudança tão estranha que os democratas-de-bem, tolerantes-de-algibeira, não a apreciem ou a temam? Culpa-se a justiça? Vêm os metecos? Que atrevimento julgar-se que, em democracia, pode haver espaço para ideias muito diferentes das nossas… É um escândalo…

Culpa-se a justiça, um parágrafo, um presidente, culpa-se até o comprimento da saia da professora de filosofia que quando falava de liberdade levava atenção dos alunos para outro lado.

Culpa-se a justiça! A senhora não tinha nada que fazer! Fez aquilo! Caiu o governo, perdeu-se uma determinada maioria, perdeu-se a esperança… Perdeu-se a memória, perderam-se 57 governantes, mais 15 que haviam perdido antes da senhora ter margem para ter culpa.

Perderam-se, também antes, meses de aulas, anos de espera na saúde, cor nos cabelos, vidas humanas, sonhos em Portugal, confiança no futuro, tantas outras coisas que, escritas, inverteriam o sentido desta mensagem.

Como seria se a senhora tivesse alguma coisa que fazer e não houvesse parágrafo, nem a Maldade-Fria de um presidente maquiavélico e calculista?

Talvez se perdessem além dos 57 e dos 15, mais uns quantos governantes. Talvez o descontentamento galopasse ainda mais e, em vez de um Ventura, houvesse dois. 

Se a senhora tivesse alguma coisa que fazer, os democratas-de-bem estavam tramados, a chuchar calmantes e pedir o regresso de Cristo, ou de um esqueleto qualquer.

Temo seriamente que se volte a desejar metecos. Temo que os democratas matem a democracia, antes de compreenderem que ela é aquilo que os “nós” e os “vós” quiserem como mesa, para se continuar calmamente a jogar à sueca, a comer, a viver e a procurar a felicidade e o progresso. 


Ontem, no último domingo de lua-nova antes do equinócio da primavera de 2024, Portugal foi a votos para redistribuir os assentos do Parlamento Português. Uma curiosidade coloca simbolicamente este sacro ofício da democracia laica portuguesa em oposição ao sacrifício Pascal que se celebra, no mesmo país, invariavelmente no primeiro domingo de lua-cheia, após o equinócio da primavera.

«Começou ontem a contagem decrescente para o final da legislatura que ainda não teve início» e começou com uma clara e incontornável vitória. Ganhou a participação popular. Ganhou a democracia, que é, entre os sistemas que conheço, o que mais facilmente oxigena corpos estranhos que podem desejar, mais do que qualquer outra coisa, a sua atrofia. Corpos esses que podem existir da esquerda à direita. Queiramos ou não, e ideias à parte, ganhou a democracia portuguesa, no ano em que assinala 50 anos da sua existência.

Um nervoso lerá nas minhas palavras uma apologia qualquer que pode ser espelho de um desejo profundo que dorme atrás dos seus olhos. Essa apologia não existe, nem nas minhas ideias, nem nestas palavras. Podemos discutir crenças e visões, preferências ou o seu contrário, na distribuição dos votos pelas diferentes candidaturas que constavam nos boletins que ontem foram preenchidos por um número historicamente generoso de eleitores portugueses. Podemos ainda estar individualmente descontentes por certos crescimentos e minguamentos de menos certos grupos parlamentares naquela eleição de domingo de breu.

Além disto, e em relação ao ato eleitoral, há a alegria e o desespero, o divórcio das expectativas com os resultados. Há também os “profetas” que precisam de ter sempre razão antes do tempo, como se a sua vida e alegria em estarem vivos dependessem disso.

Eu vejo que há uma ampulheta que não folga nem dorme, que não pode ser atrasada, podendo, contudo, ser tirada de cima da mesa para dar lugar a outra que recomeçará a cascata de areia, ou até o seu fim, ou até ter um fim igual à hipotética antecessora.

Faltam 20 dias para o clímax do culto ao coelho da Páscoa, podem faltar mais ou menos para magia democrática sacar da cartola, ao luar, uma coelha prenha de soluções ou problemas que viverão além de uma ampulheta. 

sexta-feira, 8 de março de 2024

Feliz dia às Mulheres


Nesta data estabelecida como o Dia Internacional da Mulher desejo a todas as mulheres que conheço um dia bom e feliz. Acima de tudo bom, feliz e fecundo de liberdade. Que possa ser um marco no ano que, como todos, é delas.

Desejo também que possam ser quem são e querem ser, mais do que serem cada vez mais iguais aos homens.

Diz a minha experiência que pode não ser o ideal desejar ser igual aos homens. Até porque a esmagadora maioria dos homens que conheço não tem uma vida facilmente cobiçável.

Narrativas livreiras e politiqueiras à parte, parece-me que o bom da mulher está em ser mulher, e a mulher que deseja ser. Longe disso está a tentação de procurar ser quem não se quer ser, ou julga que se quer só porque a igualdade - que eu defendo com tudo o que posso - está pintada numa ratoeira qualquer no topo de uma escada que conduz à “morte” igual à de tantos sonhos e homens que não se realizam ou cumprem.

VIVAM AS MULHERES, A SUA ALEGRIA E O SEU PROGRESSO! As que existem e que o são! Porque o resto é só degraus com madeiras, molas, tintas e “morte” para a vida que poderia ter vindo a ser e nunca veio, nem nunca a foi. 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A Direita dos Triângulos Amorosos

imagem adaptada (cortada e desfocado o rótulo) do jornal tornado (https://www.jornaltornado.pt/queima-das-fitas-coimbra-urgente-repensar/)
imagem adaptada (cortada e desfocado o rótulo) do Jornal Tornado
 (https://www.jornaltornado.pt/queima-das-fitas-coimbra-urgente-repensar/)


A fonte dos amores foi a escola de muitos dos nomes que conduziram o país que temos. Foi-a tão intensamente, que agora brotam fontes de amor nos corações fofinhos dos democratas-do-dia. Da esquerda à direita, vamos assistindo a encontros e desencontros, a traições de esquina, a mentiras da avozinha. Isto está uma cantiga de um trovador bêbado e apaixonado.

Mais à direita temos o amor platónico da saudade, com uma mesa dos três pés do tempo dos avós de muitos que agora votam. Não bastasse esse menage, evidentemente digno e respeitável, temos agora um quarto apaixonado que não aceita o não social democrata, e canta ao Mondego os amores que se lhe brotam do peito pela nação e pelos “portugueses de bem”. Há ainda um quinto, mais bem trajado, contemporâneo e neo-qualquer-coisa, que apesar de não cantar ao luar os seus amores, tem como pretendente, o amor do anterior. Fonte dos amores, que fizeste os Homens de um país, fazes agora do país uma cama. Há que contemplar no orçamento a equipa de higiene, porque mais um pouco e cheira muito mal, a podre – basta ver que uma das pernas da mesa tríplice original já caiu, só que ainda não sabe.

Com a evolução, vamos ter, certamente, serenatas a três e de quatro.