domingo, 28 de outubro de 2018

Quinta do avô

Cheiro o fumo da lareira,
Vejo ao fundo uma figueira,
O avô Pedro já se escuta...
Os portões em tons de mar,
Abertos para chamar
E demonstrar a conduta.

A Quinta lar da família,
"Lar do amor sem quezília",
Diz o velho avô perito.
Piqueniques dos vizinhos,
Mas as frutas e os vinhos
São de um grupo restrito.

Diferentes mas iguais,
Na quinta, os animais
São beleza e sustento.
Dão lã, couro e trabalho
Cartas menores no baralho,
Para um mero inatento.

O galo incompreendido,
Por acordar e ser ouvido.
Só pretende anunciar
A chegada de um dia novo,
E lembrar todo o povo:
"Está na hora de lutar".

Sem que se deixe contar,
O tempo nega parar
E o azul acinzentou.
Toda a vida outrora forte,
Está sujeita à sua sorte,
O reinado acabou.

No palheiro, o avô cansado,
E o cão-pastor a seu lado,
Que tenta não ser diferente.
Ladra e morde em todo lado
Pela raiva do passado.
Pobre cão impenitente.

Da quinta temos memórias,
De festas, heróis e glórias.
O Pedro merece alento,
E com o Rex contar histórias.
É tempo de novas vitórias:
É de outros o momento.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Pública ou “nostra”?

Quando nasce é para todos,
E o mar não é diferente.
“Que mar falas? Mar de gente?
De terra? Sonhos?” Indiferente!
Tudo é todos! Sem engodos!

Aqui na villa é diferente...
Desde o banco do jardim,
Até ao tempo do “sim”!
É só de alguns, é assim...
Pelo menos há quem tente.

Coisa pública ou nostra?
Dilema de peso tal
Na famiglia habitual.
A culpa será igual?
De todos! Estão à mostra...

domingo, 21 de outubro de 2018

CovaGala

Fotografia de Pedro Agostinho Cruz
Ainda o nada era tudo,
Sonhado surgiu no mundo,
O vulto de um pescador.
P'ra se cumprir com justiça,
Homem de força maciça,
Nos deu terra, o criador.



Pés no firme, mente ao ceú,
“Belo ser, o mar é teu,
P´ra te cumprires e pescar.”
Nós de corda, tua gente,
Eles são tu e tu és mente,
Sopro, corpo a navegar...



Com a proa ao saber
E o sopro d'O uno ser:
Içadas com sede de ar.
Velas tensas com o vento,
Velas tensa ao relento,
Morreu só para te amar.



Arde o coração de um filho,
Outrora sem ver, perdido,
Constrói mundos com amor.
Perfeito já é o brilho,
Luz do homem renascido,
Forte, belo e sabedor.



REFRÃO



Tu és cais da liberdade,
Tens talento sem vaidade,
Rosa saída da cruz.
Como Pedro pescas gente,
Cova de um mar reluzente,
Gala de um rio que seduz.

Democracia Dinástica

No meu tempo há resquícios,
Carrascos e sacrifícios,
Caça às bruxas do momento,
Pseudo-duques lambe-botas
De camaradas sem quotas
E “touradas” de outro tempo.

Quero um hoje mas de agora,
Deitar esta corja fora,
E purgar as nossas dores.
Basta de democracias,
Regidas por dinastias,
Fascistas multicolores.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Pobre Diabo

Do inferno ouvi seus passos,
E jamais pude odiar.
Meu peito e braços devassos,
São correntes, são pesar.

Roubarei asas a um anjo,
E o sol queimar-me-á.
O meu trono eterno eu esbanjo,
Quero vê-la, quem será?

Tenho medo que ela me veja,
E não consiga entender.
Pena que Ele não me proteja:
Quis-me a mim sem mal querer.

Quero morrer para te ter,
Sairei para não voltar.
Escutarei o tempo inteiro, 
Até conseguir encontrar.

A morte deu-me o teu nome,
Já sei até onde moras.
Já sei o frio, dor e fome.
Vida, como me devoras.

Vejo, ao fundo, a tua porta,
Uma laje branca florida.
Não morri para te ter morta.
Sei o inferno da vida.

Foz do Vento

“Das finas areias” leito,
Pelo Atlântico eleito,
Para poder repousar.
Outrora cosmopolita,
Vinho de gente erudita,
Da tertúlia, sol e mar.

Anfitrião sem gazeta,
Aqui morria a peseta,
E a estrelina teve alento.
Conspirou-se contra os francos,
Os fachos e os dos bancos,
Ainda era adorno o vento.

Com vontade derradeira,
Talhando o ceú e a madeira,
Iemanjá foi invadida.
Abrindo as portas ao mundo,
Pandora de um breu profundo,
Tráfico de ouro e de vida.

O passado agora insultas,
Na preguiça te sepultas,
E o vento enfureceste.
Hora de comer o figo,
Pomo do Éden, amigo.
Amigo, por que esqueceste?

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Virgem Fadista

Deus me valha, Deus me acuda,
Nesta vida eu agonizo,
Já que aquilo que eu preciso,
Não consigo alcançar.
E o que tenho não muda,
Serei por isso sisuda?
Quando irei ao altar?

Fadistas, mulheres do demo!
Apenas eu a excepção!
São tamanha podridão,
Se eles tivessem juízo,
Ao invés de um Deus supremo,
Sabiam ser no extremo,
Não gemido mas um rizo.

Mas eu sou uma donzela,
E vou de véu e grinalda!
E terá a cara em calda,
Dono do atrevimento,
De contar que sou gazela
Porei a verdade na cela!
Virgem no meu casamento! 

Cidade Verdade

de Visit Lisboa
Das colunas vejo um arco
Que promete ouro e prata:
Sonho belo, incauto. Embarco!
Que perfume escravocrata!

Mostras luz e liberdade.
O mundo por ti suspira,
Vista do alto és cidade,
Da verdade uma mentira.

Lisboa do fado amante,
Das luzes, da ilusão,
Do turista, do estudante.
Junto da seda o cartão.

Saudade, em Português digo
Eles entendem e tu não.
Esta mãe dorme contigo
Os filhos dormem no chão.

Desassossego Menor?

Menor bastava. Desassossego? Talvez...