domingo, 17 de março de 2019

Partido ao quadrado

O tabuleiro montado
Já para a próxima ronda,
Entre um partido ao quadrado
Que joga em mesa redonda.

O círculo não tem cantos,
 Mas há gente que é quadrada
E escassa e sem encantos.
Há que abrir a entrada!

A malha da rede é miúda:
Descobre a fome de gente.
Suga, detém e ajuda
A subir o incompetente.

Se me disseres com quem andas
Sei o que devo evitar.
Sei quais as minhas demandas
Calculo o desenrolar.

Partido partido ao meio,
Tem pólos, tem esperança.
O povo sem devaneio,
Deve ver mais que a cagança.

O povo... Que digo eu?
Ele come o que lhe derem.
Um beijinho e sabe o seu
Voto para que eles erem.

Uma nova contratação
Engoliu o seu discurso
Trocou o Pedro com São:
Sigla nova, novo curso?

quinta-feira, 7 de março de 2019

Estaleiro Humano

Igreja de Nª Srª de Fátima, Lisboa (Rodada 180º) - Fotografia de José Frade

Feitas para navegar
Aos olhos no rio e mar
São assim: embarcações.
Levando carga e gente
Para um porto diferente
Além das lamentações.

Um navio tem um estaleiro
Que opera um ano inteiro
Com vista a construir
Uma criação complexa
De natureza conexa
Entre chegar e partir.

Um estaleiro ao contrário
Do comum imaginário
Vira o norte a oriente
As quilhas olham os céus
E os marinheiros são réus
Do crime de ser vivente.

O comandante invisível
Até para o mais sensível
Se este não entender:
Que o trigo agora é farinha;
A mó existência minha;
E o vento o seu querer.

Sopro que cantas às velas
E que espalhaste as estrelas
És forças puras presentes,
Capaz de mover o mundo
Do alto até ao fundo
Sentidos indiferentes.

Vários mundos, vários mares,
Vários navios e cantares,
Vários portos de chegada,
Vários tempos de partida,
E várias formas de vida.
Numa decisão tomada.

Devo sair do estaleiro
Onde sou só um estrangeiro
Que viu de mais na silhueta.
Chegou o encarregado
Um sacerdote fardado:
Para alguns uma cruzeta.

Devo ficar e ouvir
Sem ter medo de dormir?
Se cair é uma sorte
Verei que estou do avesso
E talvez seja o começo
Do fim do antigo norte.

Quero, por fim, enxergar
Que o céu é o nosso mar
E que nós somos os astros.
E começar a viagem
Com esta nova viragem
Embarcando pelos mastros.

Estaleiros têm luz
A deste é uma cruz:
Prumo e horizonte.
Outras são quartos crescentes
Estrelas ou deltas ardentes
Cada um com sua fonte.

Mais que certo ou errado
Percebamos que o legado
É igual no seu geral:
Conhecer por dentro e fora;
Saber viver o agora;
Navegar no bem e mal.

domingo, 3 de março de 2019

Saber Querer

Valorizo o que não tenho,
O que tenho é pesado.
Quero um futuro estranho
Ao invés do meu passado.

Que será ser algo meu,
Pode alguém ter outro ao lado?
Pode alguém ser algo? E eu
Ao querer ter, ter pecado?

Quero não querer outra coisa
Que não o impossessível.
Quero querer como quem poisa
Mas não guarda a qualquer nível.

Assim quero o que não tenho,
Sem querer continuar a querer.
Creio num querer tamanho
Que eu quero um dia ter.

Sina triste que nos tem
Reféns numa maldade:
A de querer o que não vem;
A de não querer a verdade.



sexta-feira, 1 de março de 2019

Leis no tempo


Por ganância míope e desespero
Fizemos da lei um mero tempero
Para alguns apetites endeusados.
Atentemos no passo que se segue
Porque nenhum cumandante consegue
Ser comandante sem haver soldados.

Braço-de-Pedra (3)

Fotografia: Pedro Agostinho Cruz

Corre tinta no jornal,
Bitaites no social.
Corre o tempo incessante.
Dissolvem-se relações,
as dunas e ilusões.
Corre a calma ofegante.

Sento-me como se fosse
Sedado pelo sal doce.
Com a caneta na mão
Ajo como quem condeno
Com um movimento obsceno
Ante um espelho com condão.

A Cova que teve um poço
Pode agora ver-lhe o osso
E pensar sobre o limite:
O correr da Natureza
Que agiu como uma presa
Até sentir apetite.