Igreja de Nª Srª de Fátima, Lisboa (Rodada 180º) - Fotografia de José Frade |
Feitas para navegar
Aos olhos no rio e mar
São assim: embarcações.
Levando carga e gente
Para um porto diferente
Além das lamentações.
Um navio tem um estaleiro
Que opera um ano inteiro
Com vista a construir
Uma criação complexa
De natureza conexa
Entre chegar e partir.
Um estaleiro ao contrário
Do comum imaginário
Vira o norte a oriente
As quilhas olham os céus
E os marinheiros são réus
Do crime de ser vivente.
O comandante invisível
Até para o mais sensível
Se este não entender:
Que o trigo agora é farinha;
A mó existência minha;
E o vento o seu querer.
Sopro que cantas às velas
E que espalhaste as estrelas
És forças puras presentes,
Capaz de mover o mundo
Do alto até ao fundo
Sentidos indiferentes.
Vários mundos, vários mares,
Vários navios e cantares,
Vários portos de chegada,
Vários tempos de partida,
E várias formas de vida.
Numa decisão tomada.
Devo sair do estaleiro
Onde sou só um estrangeiro
Que viu de mais na silhueta.
Chegou o encarregado
Um sacerdote fardado:
Para alguns uma cruzeta.
Devo ficar e ouvir
Sem ter medo de dormir?
Se cair é uma sorte
Verei que estou do avesso
E talvez seja o começo
Do fim do antigo norte.
Quero, por fim, enxergar
Que o céu é o nosso mar
E que nós somos os astros.
E começar a viagem
Com esta nova viragem
Embarcando pelos mastros.
Estaleiros têm luz
A deste é uma cruz:
Prumo e horizonte.
Outras são quartos crescentes
Estrelas ou deltas ardentes
Cada um com sua fonte.
Mais que certo ou errado
Percebamos que o legado
É igual no seu geral:
Conhecer por dentro e fora;
Saber viver o agora;
Navegar no bem e mal.
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