«Alfama não cheira a fado», Março não cheira a Abril, mas Abril cheirará a Junho.
A instabilidade de que tanto se fala é, para já, um agouro. Mas pode vir a ser um sintoma de que as bodas de ouro, que todos celebraremos este ano, podem ser um quinquagésimo aniversário de um casamento de fachada.
O casal é bonito. A esposa é bem mais velha que o noivo que teve. Nas festas estão sempre lindamente, não têm grandes demonstrações de paixão, como parece ser próprio. Fora de casa é um casamento de sonho.
«Quem vive no convento é que sabe o que se passa lá dentro» e nós, os condóminos, sabemos qualquer coisa. Portugal casou com a Democracia, mas os filhos vaidosos que não ficaram com a liderança da assembleia de condomínio, parecem que são filhinhos do papá, e preferem-no à mãe.
A MEMÓRIA da mãe já se confunde com a da tetravó. O mito de ambas foi fundido com alguma habilidade e oportunismo, típicos de quem quer o pai e tem de parecer jogar com as regras da mui nobre senhora mãe.
Normalizou-se a sensação de que é necessária uma maioria absoluta para se governar a casa da mãe Democracia e do pai Portugal. Absoluta era a tua tetravó, pá!
Os filhinhos do papá andam doidinhos a acender velinhas à Santa Criatividade Jurídica, para que se lhes ilumine uma alínea que, com o fermento mediático q.b., se sobreponha ao tio, irmão do pai: o Zé Bom Senso!
Já que falámos em fermento, entremos por aí.
Cada condómino pôs na bacia um ingrediente. Houve quem não tivesse posto ingrediente algum, mas desta vez, como sabemos, foram menos. O cheiro da massa que se fez, bateu e pôs na forma, ainda crua, tem, entre as principais notas, duas muito boas: o perfume da esposa do tio Zé, a Negociação; e o do sogro, Diálogo.
Eu não gosto dos comumente entendidos como filhos da mãe. Mas talvez precisemos que outros filhos-da-mãe, estes filhos desta Mãe, venham a jogo, e honrem a memória da família vasta e respeitável, nestas bodas de ouro que ainda vão a tempo de salvar o casamento.
Bolo cheiroso já há. Faltam os filhos-da-mãe para pô-lo no forno do condomínio, com ajuda de três tias do lado pai: a tia Sabedoria e as outras duas.
«Alfama não cheira a fado / Mas não tem outra canção», cantava Ary. Abril cheirará a Junho. Junho cheirará ao tio Zé, à sua esposa e ao seu sogro! Que assim fosse...
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