Ontem, no último domingo de lua-nova antes do equinócio da primavera de 2024, Portugal foi a votos para redistribuir os assentos do Parlamento Português. Uma curiosidade coloca simbolicamente este sacro ofício da democracia laica portuguesa em oposição ao sacrifício Pascal que se celebra, no mesmo país, invariavelmente no primeiro domingo de lua-cheia, após o equinócio da primavera.
«Começou ontem a contagem decrescente para o final da legislatura que ainda não teve início» e começou com uma clara e incontornável vitória. Ganhou a participação popular. Ganhou a democracia, que é, entre os sistemas que conheço, o que mais facilmente oxigena corpos estranhos que podem desejar, mais do que qualquer outra coisa, a sua atrofia. Corpos esses que podem existir da esquerda à direita. Queiramos ou não, e ideias à parte, ganhou a democracia portuguesa, no ano em que assinala 50 anos da sua existência.
Um nervoso lerá nas minhas palavras uma apologia qualquer que pode ser espelho de um desejo profundo que dorme atrás dos seus olhos. Essa apologia não existe, nem nas minhas ideias, nem nestas palavras. Podemos discutir crenças e visões, preferências ou o seu contrário, na distribuição dos votos pelas diferentes candidaturas que constavam nos boletins que ontem foram preenchidos por um número historicamente generoso de eleitores portugueses. Podemos ainda estar individualmente descontentes por certos crescimentos e minguamentos de menos certos grupos parlamentares naquela eleição de domingo de breu.
Além disto, e em relação ao ato eleitoral, há a alegria e o desespero, o divórcio das expectativas com os resultados. Há também os “profetas” que precisam de ter sempre razão antes do tempo, como se a sua vida e alegria em estarem vivos dependessem disso.
Eu vejo que há uma ampulheta que não folga nem dorme, que não pode ser atrasada, podendo, contudo, ser tirada de cima da mesa para dar lugar a outra que recomeçará a cascata de areia, ou até o seu fim, ou até ter um fim igual à hipotética antecessora.
Faltam 20 dias para o clímax do culto ao coelho da Páscoa, podem faltar mais ou menos para magia democrática sacar da cartola, ao luar, uma coelha prenha de soluções ou problemas que viverão além de uma ampulheta.
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